sábado, 26 de abril de 2014

Publicidade direcionada

UÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO Crianças e porcarias Não será com uma visão primitiva da publicidade que as crianças crescerão felizes e saudáveis Estudo recente da Universidade de Cornell (Food and Brand Lab) revela o uso mercadológico do contato visual entre consumidores e personagens das caixas de cereais. São 65 produtos e dez pontos de venda. O resultado é desconcertante: cereais para adultos têm personagens que olham nos olhos do consumidor adulto, frente a frente; nos cereais para crianças, eles olham para baixo. Na disputa pelo inconsciente infantil, a indústria norte-americana cuida da altura das prateleiras (58,32 cm em média) e do ângulo (9,6 graus) de observação. O corredor do supermercado se transforma em "big brother" composto pelo olhar arregalado de coelhinhos, tigres, sapos e mascotes como o capitão Crunch. Nada a fazer diante de tanta malícia --salvo não levar o filho às compras ou estimular outro cardápio para o café da manhã. De olho na propaganda infantil, o Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, gostaria de proibir tudo. A Resolução 163, publicada em abril, considera abusivo o direcionamento de publicidade e comunicação à criança com o objetivo de persuadi-la ao consumo de qualquer produto. O ato não tem força legal, mas lembra o esforço do regime militar para impedir propaganda capaz de criar no eleitor "estados mentais". O que tornaria abusiva a propaganda, segundo o Conanda, é a utilização de "linguagem infantil", "excesso de cores", "vozes de criança", "desenho animado". Por reunir tantos elementos perniciosos, o anúncio da Faber-Castell a partir da canção "Aquarela", de Vinicius de Morais e Toquinho, seria crime de lesa-humanidade. Não é fácil disciplinar juridicamente o tema, assim como é difícil imaginar, em país livre, a vida infantil sem o consumo de porcarias. Temos o direito de suprimir toda propaganda dirigida à criança? A questão é saber se o Estado deve observar passivamente o movimento publicitário e se há espaço para intervenções pontuais e legítimas. Os que são contra vetos, além de implicações relativas à liberdade de expressão, de criação e de iniciativa, lembram que a educação se faz em casa e que, em tese, os pais têm poder suficiente para resistir ao que é inadequado. A obesidade infantil, por exemplo, seria fruto de hábitos familiares, não do livre arbítrio da própria criança. Pode ser. O governo Dilma bateu um recorde em 2013 e gastou R$ 2,3 bilhões com propaganda. Acrescente-se o que governadores e prefeitos gastaram e o número fica astronômico. Como os órgãos de controle fingem que é publicidade institucional, de utilidade pública, e não propaganda política disfarçada, há um desperdício assombroso de recursos. Por que os governos não gastam com educação nutricional o que gastam com autopromoção? Ensinar a ler o rótulo das embalagens. Sugerir propostas balanceadas de alimentação. Lançar alertas contra o consumo excessivo de alimentos processados. A água mineral da Coca Cola no Brasil (Crystal) é rica demais em sódio e os hipertensos deveriam saber disso. Ou não? Agências de propaganda se sofisticam e o poder público é rudimentar. Não será com uma visão primitiva da publicidade que as crianças crescerão felizes e saudáveis. lfcarvalhofilho@uol.com.br - COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Raquel Rolnik; terça: Rosely Sayão; quarta: Jairo Marques; quinta: Pasquale Cipro Neto; sexta: Barbara Gancia; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata   TEXTO ANTERIORPRÓXIMO TEXTO   Fac-Símile Edição São PauloEdição Nacional EXPERIMENTE A VERSÃO DIGITAL SÓ PARA ASSINANTES DA FOLHA Editorias Fac-símile da capa Poder Mundo Saúde + Ciência Mercado Cotidiano Esporte Ilustrada Quadrinhos Acontece   Corrida Ribeirão Opinião Editoriais Tendências/Debates Painel do Leitor Erramos Semana do leitor Semanais Tec The New York Times Equilíbrio Comida Turismo Folhinha Ilustríssima Especial Classificados Imóveis Carreiras e Empregos Veículos Revistas Guia da Folha sãopaulo Serafina Pesquisas Arquivo Folha Serviços Ombudsman Assine a Folha Atend. ao Assinante Pesquise as edições anteriores « ABRIL 2014 » D S T Q Q S S 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2 3 Busca Busca Folha de S.Paulo FOLHA DE S.PAULO Sobre a Folha Expediente Fale com a Folha Folha en Español Folha in English Folhaleaks Folha Íntegra Folha Transparência Folha 10 E-mail Folha Empreendedor Social Fale Conosco Ombudsman Atendimento ao Assinante ClubeFolha PubliFolha Banco de Dados Datafolha Folhapress Treinamento Trabalhe na Folha Publicidade Feeds do site Regras de acesso ao site Login Assine a Folha Folha de hoje Folha Digital POLÍTICA Poder Poder e Política Mensalão MUNDO Mundo BBC Brasil Deutsche Welle Financial Times The Guardian The New York Times ECONOMIA Mercado Folhainvest Indicadores Cifras & Letras MPME OPINIÃO Editoriais Blogs Colunas Tendências/Debates COTIDIANO Cotidiano Folha Verão Educação Simulados Ranking Universitário Pelo Brasil Ribeirão Preto Rio de Janeiro Revista sãopaulo sãopaulo hoje Loterias Aeroportos Praias Trânsito País em protesto ESPORTE Esporte Folha na Copa Paulista 2014 Calendário esportivo Rio 2016 Tênis Turfe Velocidade CIÊNCIA Ciência Ambiente SAÚDE Equilíbrio e Saúde CULTURA Ilustrada Grade de TV Moda Cartuns Comida Banco de receitas Guia Ilustríssima Serafina TEC Tec Games Smartphones TVs Quadrinhos F5 F5 Bichos Celebridades Colunistas Estranho! 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