sábado, 12 de abril de 2014

Ensaio sobre a cegueira social por Fred di Giacomo

O Brasil tem medo da violência cotidiana e seu medo alimenta mais violência. Os jornais sensacionalistas, os comentários de internet, os colunistas trancados em suas confortáveis salas pedem mais armas, mais carros blindados, mais polícia, mais cadeias. Mães de família inocentes são arrastadas por carros na rua, moleques são criados sendo chamados de macacos, nordestinas são “cabeças de maçã boas pra comer, mas que não dá pra andar de mão dada no shopping” (Sim, eu já ouvi isso quando fui ao Rio de Janeiro pela primeira vez). E, claro, playboy é tudo “mimado, leite com pêra e fútil”. Alimentar ódio gera ódio. Precisamos diminuir as pontes do Brasil, precisamos de mais diálogo, de mais educação, de oportunidades justas para quem está do lado mais pobre da sociedade. Precisamos conseguir olhar o outro nos olhos. Um “mano” e um “playboy” tem que entender que são pessoas, são brasileiros e os dois têm os mesmos direitos e deveres. Nenhum dos dois têm que ser assaltado, ser morto, ser espancado pela polícia, ser humilhado pelo patrão ou sofrer  qualquer tipo de preconceito. E quando uma mulher como a Cláudia for assassinada em um tiroteio na favela e arrastada por um carro de polícia, nós não podemos achar que isso é normal apenas porque ela é negra e favelada. Temos que ficar tão revoltados quanto quando uma dentista foi queimada por bandidos. É preciso conseguir enxergar o ser humano onde só se enxerga o “pobre”.A periferia não é um grande jogo de “Doom” , um episódio de “Walking Dead”, onde você pode praticar tiro ao alvo em zumbis.Olhe para a ilustração. Você consegue ver o ser humano assassinado atrás da estatística? Ilustração da Laura AthaydeEnquanto os porteiros continuarem não sendo olhados nos olhos, enquanto a mulher negra for “gostosa, mas só pra comer”, enquanto o estilo de se vestir condenar o moleque à morte, enquanto militantes estudantis continuarem idealizando “o pobre ideal” sem conhecer as pessoas de carne e osso, enquanto a classe média for vista apenas como “playboy forgado de brinco, o trouxa, roubado dentro do carro na Avenida Rebouças“, eu aposto com você que o Brasil vai continuar sendo um lugar violento onde você sairá de noite e poderá não voltar. É importante lembrar que muitas vezes a sua felicidade e segurança depende de que as pessoas à sua volta também estejam felizes, seguras e tenham condições decentes de vida. O respeitado cientista Steven Pinker fez uma palestra muito famosa no TED em que mostra como a violência no mundo vem diminuindo desde o surgimento do homem até os dias de hoje. Um dos principais motivos que Pinker aponta para essa redução de violência é a empatia que se tem criado entre os seres humanos ao longo dos anos, que passam a ver o outro não como uma sub-raça possível de ser exterminada, escravizada ou usada, mas como um igual.Uma extensão da nossa família.As ilustrações desse post foram feitas para o blogThink Olga pela Luisa Lima , Cecilia Silveira e a Laura Athayde em homenagem à Cláudia Silva Ferreira,  assassinada no Rio de Janeiro e arrastada por uma viatura de polícia militar. Elas fazem parte do lindo projeto “100 vezes Cláudia” idealizado pela jornalista Juliana Faria que procura enxergar a Cláudia com a dignidade que um ser humano merece.

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